De Palavras e Sonhos

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Ecos

Verão

Aquela altura do ano pela qual as pessoas anseiam chegou, por fim. Não há coisa melhor no mundo que o Verão, o sossego é mais que muito e a paz é como uma segunda pele.
Verão é sinónimo de férias. De quê? Daquilo que nos rodeia e arrelia. São tempos de despreocupação, de aproveitar a vida com a luz a bater no rosto. Esta luz é diferente,sinto magia quando me toca na cara, no corpo, na alma ("Que dure para sempre" - pensava eu). Era como se ela me elevasse a um outro plano, tirando- me o chão dos pés.
Eu vivia confortável, o sorriso na cara era coisa de minha essência e nada, mas nada me tirava do conforto, a não ser...
Dia após dia, o andar na rua era despreocupado e alegre, pois o sol continuava brilhando num um céu sem nuvens.
Mas havia algo que me começava a causar uma certa estranheza. Não havia muitas pessoas na rua comigo e era capaz de jurar que vozes pairavam no ar e quando as tocava, o arrepio na espinha era de tirar o fôlego, mas ainda que olhasse à volta, não via ninguém. Eu tinha a impressão de que ontem havia mais pessoas.
No entanto, lá continuava a andar sem conseguir passar mais tempo com essa memória, via- a a ir mas não sentia força ou sentimento para a agarrar.
Uma coisa era certa, eu via que a cada momento que me compenetrava naquela luz, que me decidia aqueçer mais por debaixo dela, o sentimento de que começavam a desaparecer mais pessoas e ainda mas vozes voltava e cada vez com mais força. Mas por mais que a tentasse agarrar a memória fugia- me... até hoje.

Inverno
Na última voz que toquei senti um ar gélido a percorrer- me o corpo. Por momentos não me senti, e quando abri os olhos, aquelas vozes começavam a materializar- se...eram pessoas.
Um novo cenário acenava tristemente aos meus olhos: a pessoas, cujas vozes tinham tomado forma, não tinham sorrisos, a sua cara parecia marcada. Seria tristeza?
Parei e reparei que esta gente caminhava comigo na rua lado a lado. Agora percebo tudo, as vozes gélidas, o porquê de nunca ter falado com as pessoas que me passavam ao lado na rua.
Aquelas vozes pediam carinho, simpatia... um olhar.
Como é que fui capaz de ignorar o verdadeiro mundo durante tanto tempo? Um mundo onde as pessoas andavam sem tirar o olhar do chão, sem conseguir limpar as lágrimas que não paravam, sem saber o que é o sol e viver constantemente com um frio a trespassar- lhes o corpo primeiro e depois a alma... sem piedade.
Agora que os vejo, o céu já ganha nuvens e a chuva cai (e muitas vezes intensamente). Mas o sol também existe, apenas está tapado.
Mas este sol é puro, eu sinto- o! Basta- me aqueçer uma voz para que ele brilhe cada vez mais forte e mesmo que o olhes de frente ela não te cega.
O Verão que eu pensava viver era irreal, era um outro tipo de inverno, ainda que disfarçado de luz e esta, quando eu pensava que me aquecia, entropecia- me.
Não há nada como o Amor para nos aqueçer a alma... o verdadeiro Verão!

Délio Melo sexta-feira, janeiro 07, 2005

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