De Palavras e Sonhos

sexta-feira, agosto 25, 2006

Beijos

Tudo começou quando abri a janela e me encostei no parapeito da varanda.

Sentir este ar é experimentar algo novo: um novo aroma, uma nova estranheza, um novo estado de espírito.
É tão diferente estar aqui...
Todos estes prédios, todas estas pessoas e esta língua, estão demasiado distantes de mim. Quando vim pensei que iria ser mais do mesmo, mas sinto-me tão deslocada...
Não há uma única cara/pessoa, casa ou até recanto, a que consiga chamar casa.
Eu estou aqui só, mas mesmo que estivesse acompanhada metade de mim sentir-se-ia estranha. Aqui é um lugar estranho para mim.
Nem o horizonte me parece o mesmo.
Neste momento, olhar para tudo à minha volta só me faz pensar que estou a olhar para blocos enormes de pedra, corpos sem rosto que andam de um lado para o outro e ruídos tão sem sentido que me fazem sentir estar a ser furada de um lado ao outro.

Será que me habituei demasiado ao meu canto ou será porque te tive a ti e ao pai sempre do meu lado?
Mas prometo que vou pôr um sorriso na cara, ok?


Beijos,

Da vossa filha adorada.
Passaram-se quase dois anos desde que escrevi esta carta. Relembro-me como me sentia mal na altura e comparo-o, e a mim, ao que sinto e sou agora.
Aprendi neste tempo o quão importante é não me entregar ao medo, saber que o meu mundo sempre envolverá o que está lá fora - seja isso bom ou mau.
Tive que crescer...assim...
Délio Melo sexta-feira, agosto 25, 2006 | 0 comments |

quinta-feira, agosto 17, 2006

Quando acordei...

já toda a gente tinha saído.

Passei meses a acordar para pessoas e barulhos à minha volta...até me tinha esquecido de como era ter o silêncio nos ouvidos.
Ao início é esquisito, e as memórias dos dias anteriores voltam como que por reflexo, mas depois, lentamente, isso vai ficando para trás e abre-se a janela para o novo dia.
Nunca antes tinha tido tanta consciência do meu quarto – deve ser porque estou só. Com a cortina totalmente aberta, e os raios de sol a entrar, o quarto parece-me diferente, novo para mim...mais bonito que o normal até.
Sempre o tive recheado de coisas, mas desde o momento que apenas deixei o essencial aqui dentro, tornou-se mais leve para os meus olhos. - Caminhar naquele chão quente pelo sol foi a coisa mais confortável que poderia ter sentido.
Abri aquela janela que subtituiu a parede no meu quarto e dei de caras com uma leve brisa matinal e um calor aconchegadores que me prenderam naquela posição durante um bom bocado.
Fui lá para fora. Atravessei a acalmia do terraço e sentei-me (na berma do mesmo).

Daqui ao horizonte...uau - que distância... Mas não deixou de ter aquela vista maravilhosa que tinha desde que reparei nele, terminava a minha infância. Todos aqueles sonhos...
Apetece-me esticar o braço e puxar o horizonte...mas como dizem, “devagar se vai ao longe”.


Ahh! Esquecia-me... ontem foi o meu último dia neste mundo.
Aqui, sinto que fiz a escolha certa!
Délio Melo quinta-feira, agosto 17, 2006 | 2 comments |

quinta-feira, agosto 10, 2006

Sem uma nova luz

Pensei durante anos como seria um romance de Verão. Pensei que talvez um novo local, novas caras e outras disposições touxessem uma pequena luz...
Foram sonhos – não distruidos mas transformados – e disso não passarão.
Tornei-me, então, voluntariamente espectador dos amores de Verão. Mas por reflexo ou vontade escondida, são a primeira coisa de que me lembro quando o vejo (e ela tão perto).
Pensei que ia ser no calor do Verão, com as pernas marcadas pela água do mar e pela areia, com a pele queimada pelo sol, sentado na areia trocando olhares, que tudo iria começar.

Hoje...conformado, mas em sossêgo.
Délio Melo quinta-feira, agosto 10, 2006 | 1 comments |