De Palavras e Sonhos

segunda-feira, janeiro 30, 2006

O dia em que o mundo se esqueceu do seu nome (III)

Imagina que um dia alguém fazia algo tão terrível que não só me afectava a mim, a ti, como a todos os que vivem, viveram e viverão, até aquele que perpetrara tal acto (sem ter consciência do que estava a fazer). Haveria apenas um efeito, embora irreversível: a perda de humanidade.
Bastaria apenas um acto, uma decisão, tomada por uma mão cheia de homens…
De um lado da balança, uns poucos, e do outro, Nós.
Como é que é possível que ela esteja a inclinar para o lado errado?
Délio Melo segunda-feira, janeiro 30, 2006 | 0 comments |

sexta-feira, janeiro 27, 2006

O dia em que o mundo se esqueceu do seu nome (II)

Imagina que um dia alguém fazia o relógio do mundo parar e a corda do mesmo tinha quebrado. O que fazer com tudo aquilo que nos deram antes de virmos para cá?
Mas com o tempo parado, será que também eu pararia? Será que eu iria esquecer tudo?
Mesmo que o mundo tenha parado, não significa que o mesmo acontecera contigo. E mais cedo ou mais tarde algo dentro de nós iria querer continuar…e sem tempo, sem memória de velhos costumes, como parar a dor?
Atrás do espelho que dava para o mundo real…preso.
Délio Melo sexta-feira, janeiro 27, 2006 | 0 comments |

quarta-feira, janeiro 25, 2006

O dia em que o mundo se esqueceu do seu nome (I)

Imagina que um dia fazias parte de um grande quadro – e não por vontade própria.
A partir desse dia, todos os que olhavam para ti veriam o quê? Um Homem gentil, um coração apaixonado, um Homem com sonhos e ideias? Veriam apenas uma imagem, um esboço, algo que alguém definiu como ideal para si e que colou na tela.
Na perda da terceira dimensão, perdeste mais do que imaginas; tiraram-te algo que não vais poder recuperar. Estás estático, e ele também…
Délio Melo quarta-feira, janeiro 25, 2006 | 0 comments |

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Esperando por ti

Recordar para mim também é viver…e segundo após segundo respiro por ti, para te ver mais uma vez.
Enquanto te recordo sinto-me…nas alturas…eu.
Contigo, sento-me no maior jardim, no meio das flores mais belas, onde o aroma no ar me deixa inerte, mas sorridente.
Nele (dentro de nós), o silêncio à porta do jardim só deixa passar a tua voz, que toca o fragmento que sou e une-me…a ti.
Não vou fingir que te odeio só porque te amo mais do que consigo controlar. Decidi agradecer a quem me deixou namorar um anjo.
Novamente, espero mais um dia para estar contigo e assim, poder deixar esta dormência que me consome quando não te tenho do meu lado.
Espero o que vem ai – no fundo, afortunado.
Délio Melo quarta-feira, janeiro 18, 2006 | 0 comments |

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Uma alma em bocados

Quem já não ouviu “há mais neste mundo do que as pessoas pensam”?

À nossa volta há sentimentos que não existem por si só, ecoam. E os bons, ecoam por boas acções, risos, amizades e amores – sentimentos fortes quando vistos sozinhos, mas muito maiores quando vistos interligados entre si.
É como se, juntos, se alimentassem de todos e, ao mesmo tempo, formassem uma rede enorme capaz de tocar qualquer um. Invisível sim, mas bem real.
E há neste mundo um local onde isto é mais que visível: o coração de uma criança. Elas são as mais sensíveis.
Se, por exemplo, num ambiente familiar existir amor, elas levam consigo esse sentimento para o resto da sua vida e enquanto o partilham, aumentam e fortalecem essa rede à sua volta, à nossa volta.
Mas não são só as crianças os responsáveis por este fenómeno. Dos 8 aos 80 todos têm um papel a cumprir – porque a alma não é deste tempo.
E a melhor parte é que quanto mais ecoas, mais recebes de volta, porque mais sentiram o teu gesto.
Procurar fazer isto mais vezes fará com que só pelo olhar as pessoas se reconfortem com a tua presença, estejam onde estiverem.
O dia ficará então gravado dentro das pessoas, mesmo que elas não se lembrem, como algo de bom.
Parece que as almas se esticam infinitamente, não é?
De que almas é que tu terás um bocadinho?
Délio Melo quarta-feira, janeiro 11, 2006 | 1 comments |

quarta-feira, janeiro 04, 2006

A minha pobreza

Quando me apetece descansar, ou quando tenho sono e quero dormir, eu sei onde ir. Até naqueles dias onde não apetece estar com ninguém, ou estou demasiado em baixo para fazer seja o que for, acabo por ir sempre parar ao mesmo sítio.
No mínimo, é o meu descanso em dias que correm bem, e sei que ao fechar os olhos, não há nada mais que me incomode.
A minha cama é o meu conforto – E no Inverno, é o melhor sítio para estar.
Mas e quem não a tem?

Já me aconteceu de estar deitado e pensar em que não tem e em como se sentirão eles.
É como se algo estivesse à nossa frente e só precisássemos de fazer um pouco de força e ter um pouco de paciência para as ter. Quem é que nunca viu algo que gostaria de ter e chateou todos os dias os pais para o ter, ou até poupou uns trocos para comprar o que tanto queria? Às vezes até nos “passamos” por estar a demorar tanto a tê-la… e quem, por mais que tente, não consegue arranjar uma cama onde dormir, ou um pão para comer?
Como será passar fome durante dias e desesperar por uma migalha, ou apanhar chuva e frio durante horas e não ter como lhes fugir? Deve ser interessante…
Nestas alturas o que lhes passará pela cabeça?
Será o comprar um novo carro? Será aquele vestido fabuloso e caro na montra da loja? Será que também se roem de inveja dos vizinhos que recebem mais ao fim do mês do que eles?
Ou será que se lembram, todos os dias, que há alguém que os poderia ajudar, mas que lhe vira a cara quando passa por eles, ou quando os vêem na televisão?
E todos os dias a mesma coisa. Devo admitir que a mim, deixar-me-ia frustrado e desesperado: porque é que ninguém me ajuda? – Provavelmente pensaria algo parecido com isto.

Mas mesmo que o mundo inteiro desse dinheiro, comida, roupa e medicamentos, para levantar esta gente, quanto tempo é que iria demorar a que estes, ou outros, caíssem novamente?
Não estou a dizer que então ajudar não leva a nada; que se ajudamos um pobre, logo outro aparecia para lhe tomar o lugar, por isso…
Ajudar sempre impede que alguém fique pior do que já está, ou se possível, evitar que alguém fique mesmo mal.

Mas não é com o tirar a barriga, de alguém, de misérias que vamos lá, eu reconheço isso. Era preciso que depois disso, houvesse desejo de partilha suficiente para todos termos pelo menos o suficiente para uma vida digna.
O problema é: quantos de nós estarão dispostos a darem continuamente? É que a maior parte acha que só dando uma vez chega. “Se os homens mais ricos do mundo quisessem, pagavam a divida de não sei quantos países.” E depois?
A intenção é louvável, mas é preciso por o Homem a trabalhar para acabar com a pobreza.
Em vez de tapar um chão podre com remendos, é preferível tirar tudo e fazer um que realmente dure.

Mas como tudo, enquanto não nos toca a nós, está tudo bem. E como esses problemas só nos impressionam uns minutos…Só espero que haja uma geração, um dia, que não queira esquecer. .
Délio Melo quarta-feira, janeiro 04, 2006 | 1 comments |