De Palavras e Sonhos

quarta-feira, março 29, 2006

Sonho (III): ...um sonho?

Antes de acordar parei num último sítio.
O ceú tinha poucas nuvens. O sol, brilhante, parecia trazer um fim apaziguante ao meu sonho.
Olhando para baixo vi uma fila enorme de pessoas lado a lado olhando para um mar que se esticava sem fim, à sua frente.
De joelhos no chão, todos contemplavam a água cristalina, brincando ao mesmo tempo com o seu reflexo na água. Faziam ondas, atiravam gotas de água...tudo para se rirem outra vez.
Não sei porquê, mas parecia que já estavam naquilo horas. Talvez tenha sido do à vontade deles naquela brincadeira que me tenha levado a pensar assim.

Parecia divertido, por isso decidi juntar-me a eles.
Ajoelhei-me e ouve algo que me surpreendeu: terminada a areia, o mar entrava em profundidade. Apesar da claridade da água, não via o fundo.
Ainda assim decidi continuar e concentrar-me para não me desiquilibrar e cair.
Atirei os primeiros salpicos e os efeitos na água fizeram o meu reflexo destorcer-se de uma maneira pouco comum. Mas o efeito foi tão divertido, é como se eu tivesse a fazer caretas.
As horas passaram e o sol começava a cair sobre o horizonte. Foi então que senti algo esquisito. Para onde tinham ido os reflexos das nuvens, do sol e até de todos na fila? Como é que era possível?
Afastei-me abruptamente, quase caindo para trás com a força que fiz.
Incrédulo, perguntava-me o que se passava...quando a terra tremeu. Lentamente se abriram fendas à volta de todos os que estavam comigo, e rapidamente, o que era antes um só chão era agora um conjunto incontável de pequenas ilhas, à deriva, cada vez mais afastando-se da que lhe estava mais perto.
E ninguém notava que a terra se separava....continuavam a brincar, como se fossem crianças.
Não precisava de ver mais para saber o que lhes iria acontecer.
Estava sozinho....

Era um sonho?
Délio Melo quarta-feira, março 29, 2006 | 0 comments |

quinta-feira, março 23, 2006

Sonho (II): 7 palmos acima da terra

Era uma terra diferente da primeira. A escuridão cobria o local à excepção de um local onde uma luz brotava da terra e parava no ar, 7 palmos acima do chão.
Decidi então descer uma rua que me levava em direcção à luz.
Enquanto me aproximava sentia no ar um aroma desgostoso, o céu ficava cada vez mais escuro e à minha volta um véu negro cobria-me, cobrindo o caminho que deixava para trás.
Ouvi vozes e passos. Virei-me em todas as direcções, mas não vi ninguém.
Cheguei por fim à luz, e para minha surpresa estava toda gente lá, à sua volta.
Era uma luz intensa mas não quente. Iluminava todos aqueles que a rodeavam, e agora, também a mim.
No seu meio estava algo que nunca tinha visto: era uma matéria que mudava constantemente de forma: mostrou-me todas aquelas coisas que sempre desejei possuir e ser...
Ela falava comigo – nem queria acreditar – e a sua voz, de mulher, chamava-me. Atraía-me como se fosse um íman.
Por breves instantes cheguei a sentir-me entorpecido, preso pelo meu olhar. Havia algo de desassossegante e perturbador naquele local e naquela luz. E foi isso que me abanou e me fez sair daquele encantamento.
(Mas com o que aconteceu a seguir, preferia ter ficado a dormir.)
Os olhares à minha volta estavam vidrados naquela luz e as pessoas solenemente quietas.
Foi quando as olhava que senti algo mau a passar por mim, a atravessar-me, mudando a realidade à minha volta, como se de um virar de página se tratasse.
Trazendo escuridão, cegou-me, e mil vozes encherem-me com gritos angustiantes e estridentes.
Não conseguia parar de tremer. Nem tinha força para abrir os olhos. Mas ganhei coragem e abri-os…apenas restavam ossos à minha volta,;esqueletos humanos quebrados rodeavam-me.
A minha mente sabia o que tinha acontecido, mas a verdade era demasiado dolorosa para revisitar...e para não chorar em terror.
Délio Melo quinta-feira, março 23, 2006 | 0 comments |

sexta-feira, março 17, 2006

Sonho: ...nada?

Um dia sonhei...e os meus olhos levaram-me a ver coisas que não queria ver, e os meus pés, a sítios onde não queria estar.
Estava numa terra onde homem nenhum via e onde o sol, por ironia, brilhava intensamente, iluminando a fertilidade de uma terra imensa.
Com a bengala, apalpavam o terreno – por onde andavam à procura do seu destino. O que eles não viam era que em multidão as suas bengalas batiam nos pés uns dos outros (fazendo muitos cair por terra de dor) não no chão.
Círculo após círculo, um a um paravam e em seguida caíam. Os seus corpos, inanimados, pareciam nunca ter conhecido algum dia um aroma. Caíam por cair, sem graça.

Por mais que lhes gritasse para pararem não me ouviam.
Não sabiam que à sua volta lhes esperava um oásis. Preferiam andar sem rumo, forçando nos outros o seu desejo por um caminho.
E estava tudo ao alcance deles...
Não queria ver o seu fim, mas vi. O tempo acelerou e mostrou-mo na mesma: ossos e esqueletos à minha volta.
Baixei a cabeça em tristeza pensando no que teria acontecido se tivessem parado por 5 segundos.De queixo levantado, segui em frente
Délio Melo sexta-feira, março 17, 2006 | 0 comments |

sexta-feira, março 10, 2006

Eclipse lunar

De muito longe continuam a vir réplicas de um terramoto que começou há quase cinquenta – e não me parece que parem tão cedo.
É natural havê-los durante uma vida inteira – como quem diz –, mas não é normal continuarem ano após ano.
Às vezes penso que pararam…mas quando me lembro deles vejo que eram uma ilusão: os momentos de silêncio e paz eram apenas eu a fechar os olhos para descansar.
Demorei anos a perceber de onde vinha tanta força e do que estava realmente a acontecer: não era um terramoto, era um eclipse que fazia tremer o mundo.

Atravessando terras, tempestades de areia, culturas e mares, cheguei a um vale.
O eclipse, aqui, cobria plenamente a terra. A luz, exígua, não chegava para ver com claridade, quanto mais fazer crescer algo.
No vale estavam duas nações, uma para cada lado…e ambas gritavam blasfémias e promessas de ódio de parte a parte.
É estranho, mas, todas as vozes soavam ao mesmo. Tinham um tom malévolo e inumano. Só o som das mesmas chegava para me arrepiar a espinha.
Com pedras e paus nas mãos, o que me assustava era o olhar daquelas pessoas. Havia neles um brilho de maldade como nunca tinha visto, quase...Eu conseguia ver que algo dentro delas fervia algo.
Desde que cheguei que não conseguia parar de tremer. Era por causa daquele local, sabia-o. Palavras de ódio, gestos abomináveis e um céu negro batiam-me com tanta força que sentia o peito a apertar, lentamente, cada vez mais.

Por entre eles passava muito rapidamente uma sombra. Colocando-se por detrás de cada um deles, sussurrava-lhes algo que, de onde estava, não conseguia ouvir. E saltando de um lado para o outro, falando com cada uma daquelas pessoas, tornava-as mais e mais violentas.
Fechei os olhos, já não aguentava mais olhar para eles e foi ai que ouvi…
Com os olhos fechados pude ouvir que para além de gritos, cada um deles pedia, com pouco fôlego, por ajuda.
Surpreso, sem saber de onde vinham aquelas vozes, abri os olhos…para encontrar um campo de gente moribundo, com uma luz que era aspirada pela sombra.
Aquele ódio todo…aquela falsa vitalidade…era oca. Aquilo estava a consumi-los sem se aperceberem. Crescendo com a sua queda, tornando-se mais forte.
Délio Melo sexta-feira, março 10, 2006 | 0 comments |

quinta-feira, março 02, 2006

Numa noite triste

Vento, chuva…que me deixem passar para chegar a ti.
Peço que este sentimento não seja parado por nada. Estás à minha espera, e prometi ir ao teu encontro.

Não sei se já corri quilómetros ou não sai sequer do sítio, sei que alguém ficou para trás à minha espera – tenho que me despachar, não me posso ausentar por muito tempo; a minha falta é a dor de alguém.
O vento está cada vez mais forte e chove cada vez mais, mas por muito que me empurrem para trás ou me atrasem o passo, é só uma questão de tempo…espera só mais um bocado.
Será que é a tua imagem que eu vejo? É! Cheguei.

Tenho uma mensagem para ti:
“Sei que não há mais que possa fazer por ti, agora que estamos separados pela lua. Por isso amei-te o máximo que podia dentro de mim para te poder mandar isto.
Embora longe, sei que ele vai chegar até ti.
Dizem que os olhos são o espelho da alma, por isso pedi-lhe que entrasse pelos olhos para chegar mais depressa ao teu coração.
Se choraste foi porque já cheguei ao coração e comecei a tirar de dentro de ti espinhos que te apertavam o coração.
Agora, quero que me abraces com força porque vamos dar uma volta. Deita-te e vemo-nos em breve!

Amanhã será um dia melhor, prometo-te!


Amo-te…”
Délio Melo quinta-feira, março 02, 2006 | 0 comments |