De Palavras e Sonhos

quarta-feira, setembro 28, 2005

Prenda

Três crianças (duas meninas e um menino) de mãos dadas fazendo um círculo, sorriam e cantavam.
No meio delas estava sentada uma outra criança com uma luz à sua volta. Sorridente, também ela acompanhava os cânticos com um pequeno mover dos lábios.
Foi então que a noite caiu e de todo o lado vieram ruídos de arrepiar e palavras cheias de ódio. Quanto mais tempo passava, mais se aproximava e mais forte era o seu som.
Mas as três crianças continuavam a cantar, a sorrir e a andar à roda daquela. Era como se elas não se apercebessem do que se aproximava.
Uma mancha negra cercou-os, soprando o mais que podia, tentava gelar os seus corpos, mas a criança no meio do círculo – agora levantada – iluminou-se até ao céu, e esticando a mão, nasceu sobre a sua palma um ponto de luz, que em forma de círculo se expandiu em todas as direcções, fazendo com que a mancha negra desaparecesse.
As três crianças, sorrindo, cantando e ainda com as mãos dadas, continuavam a andar à roda da criança, que agora estava sentada.
Ainda mais reluzente do que antes, fechou os olhos, abriu um sorriso e em voz alta acompanhava os cânticos das outras 3 crianças.
Délio Melo quarta-feira, setembro 28, 2005 | 3 comments |

quinta-feira, setembro 15, 2005

Na terra de gigantes

A pique caía eu, abrindo caminho por entre camadas de memórias recentes e antigas, causando ondas de dor e abrindo portas ao meu Inverno que agora me seguia.
Pensei que ia numa queda sem fim quando lá ao fundo surgiu um ponto vermelho que lentamente se ia revelando gigantesco.
Cai nele sem dar conta da sua verdadeira dimensão: estendia-se para lá do horizonte. Se me estivesse a ver, de fora, a cair, apenas veria um ponto descendendo m direcção a esse imenso vermelho.
E foi esse vermelho que acabou por ser a minha salvação: suave como uma almofada, entrei nele para ser disparado para cima, como se tivesse saltado para cima de uma mola.
Subia à velocidade da luz e comigo arrastava uma força incrível que rebentavam aquelas ondas de dor e queimava o Inverno.
Subia sem parar até que cheguei a uma terra onde os limites que eu conhecia eram velhas histórias contadas sobre os homens de negro.
Vi-te lá ao fundo, estavas a esticares-te para chegar a uma estrela que estava no céu. Não sei como conseguiste, mas já não era a primeira, junto do teu coração estavam outras vinte e cinco, que com esta faziam vinte e seis.
“Dão-me paz” – disseste tu.”
O que era mais estranho para mim era que ao juntares essa última estrela continuavas a crescer. Eras tão grande, que as tuas palavras, gestos e olhares ressoavam por toda a terra eliminando as poucas sombras que permaneciam escondidas.
“Olha, que terra é esta? – perguntei-te eu.”
“Esta tua viagem… e se eu te dissesse que a tua subida foi com os dois pés no chão?”Tudo era vermelho daqui ao horizonte e eu estava sentado no vermelho, começando a abrir os olhos.
Délio Melo quinta-feira, setembro 15, 2005 | 15 comments |

terça-feira, setembro 06, 2005

O sol chegou...

O sol chegou finalmente à altura da minha varanda. A janela aberta no lado esquerdo deixa o vento entrar para brincar com a cortina.
A luz lá fora parecia estar presa por um pêndulo: entrava por uns segundos trazendo um doce silêncio e contemplação, mas logo saia, deixando-me a desejar pelo seu regresso.
Era capaz de jurar que os dois me estavam a chamar para ir brincar com eles, não cá dentro, não lá fora… num sítio especial. Aquele fora deste espaço e deste tempo, onde as almas falam mais alto.
Mas sei que se olhar para eles de frente desaparecerão – quase como se nunca estivessem estado lá. Por isso prefiro fingir que não estou a olhar…por enquanto!
Délio Melo terça-feira, setembro 06, 2005 | 3 comments |