De Palavras e Sonhos

segunda-feira, outubro 13, 2008

Anamnése

Desde há muito que guardo bocados de imagens ou frases na minha cabeça. Coisas que surgiram do nada e que não consigo compreender o que são.
Numa imagem, num pequeno espaço, vejo um chão esbranquiçado. Do céu (que não chego a ver), vem um largo raio de luz que toca o chão, iluminando levemente o espaço à sua volta. E logo ao seu lado está uma enorme anta.

Há meses que tento dar um significado a esta imagem… mas não consigo perceber o que cada coisa significa por si.
Houve vezes em que em vez da luz vi uma escada rolante ascendente e em vez da anta, um rochedo – como um menir.Sempre pensei se não seriam símbolos de um fim e de um início. E porque mudaram as suas formas iniciais? Se são símbolos, será que com o tempo fui perdendo clareza de espírito sobre o meu mundo? Eu perdi uma forma na luz e ganhei uma em forma de morte.
Talvez seja isso; talvez tenha perdido um pouco de noção das coisas. Para dizer a verdade, já não encontro em mim a paz ou o amor de outros tempos. Agora tudo parece mais difícil combater: as invejas, os ódios, as tentações. A luta pelo bem em mim ficou mais dura com o passar dos anos – sinto-me um pouco cansado e já não reajo com a calma e paciência, como antes. Às vezes dou por mim a dizer, ou até pensar, coisas que sempre tentei não ter na minha cabeça ou no meu coração.
Como é que antes parecia tão fácil dizer que não, e agora…

Será que cedi demais e agora estou a pagar por isso? Se é, acho que o estou a saber a tempo de ainda poder mudar-me. Apesar de tudo, eu ainda vejo a luz que eu sei que vem do céu! E mesmo tendo lá a anta, o que me interessa é realmente essa kuz.E houve algo que nunca esqueci: sempre senti que pertencia àquele lugar, a subir por aquela luz acima.
Délio Melo segunda-feira, outubro 13, 2008 | 0 comments |