De Palavras e Sonhos

quinta-feira, março 23, 2006

Sonho (II): 7 palmos acima da terra

Era uma terra diferente da primeira. A escuridão cobria o local à excepção de um local onde uma luz brotava da terra e parava no ar, 7 palmos acima do chão.
Decidi então descer uma rua que me levava em direcção à luz.
Enquanto me aproximava sentia no ar um aroma desgostoso, o céu ficava cada vez mais escuro e à minha volta um véu negro cobria-me, cobrindo o caminho que deixava para trás.
Ouvi vozes e passos. Virei-me em todas as direcções, mas não vi ninguém.
Cheguei por fim à luz, e para minha surpresa estava toda gente lá, à sua volta.
Era uma luz intensa mas não quente. Iluminava todos aqueles que a rodeavam, e agora, também a mim.
No seu meio estava algo que nunca tinha visto: era uma matéria que mudava constantemente de forma: mostrou-me todas aquelas coisas que sempre desejei possuir e ser...
Ela falava comigo – nem queria acreditar – e a sua voz, de mulher, chamava-me. Atraía-me como se fosse um íman.
Por breves instantes cheguei a sentir-me entorpecido, preso pelo meu olhar. Havia algo de desassossegante e perturbador naquele local e naquela luz. E foi isso que me abanou e me fez sair daquele encantamento.
(Mas com o que aconteceu a seguir, preferia ter ficado a dormir.)
Os olhares à minha volta estavam vidrados naquela luz e as pessoas solenemente quietas.
Foi quando as olhava que senti algo mau a passar por mim, a atravessar-me, mudando a realidade à minha volta, como se de um virar de página se tratasse.
Trazendo escuridão, cegou-me, e mil vozes encherem-me com gritos angustiantes e estridentes.
Não conseguia parar de tremer. Nem tinha força para abrir os olhos. Mas ganhei coragem e abri-os…apenas restavam ossos à minha volta,;esqueletos humanos quebrados rodeavam-me.
A minha mente sabia o que tinha acontecido, mas a verdade era demasiado dolorosa para revisitar...e para não chorar em terror.
Délio Melo quinta-feira, março 23, 2006

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