De Palavras e Sonhos

quarta-feira, janeiro 04, 2006

A minha pobreza

Quando me apetece descansar, ou quando tenho sono e quero dormir, eu sei onde ir. Até naqueles dias onde não apetece estar com ninguém, ou estou demasiado em baixo para fazer seja o que for, acabo por ir sempre parar ao mesmo sítio.
No mínimo, é o meu descanso em dias que correm bem, e sei que ao fechar os olhos, não há nada mais que me incomode.
A minha cama é o meu conforto – E no Inverno, é o melhor sítio para estar.
Mas e quem não a tem?

Já me aconteceu de estar deitado e pensar em que não tem e em como se sentirão eles.
É como se algo estivesse à nossa frente e só precisássemos de fazer um pouco de força e ter um pouco de paciência para as ter. Quem é que nunca viu algo que gostaria de ter e chateou todos os dias os pais para o ter, ou até poupou uns trocos para comprar o que tanto queria? Às vezes até nos “passamos” por estar a demorar tanto a tê-la… e quem, por mais que tente, não consegue arranjar uma cama onde dormir, ou um pão para comer?
Como será passar fome durante dias e desesperar por uma migalha, ou apanhar chuva e frio durante horas e não ter como lhes fugir? Deve ser interessante…
Nestas alturas o que lhes passará pela cabeça?
Será o comprar um novo carro? Será aquele vestido fabuloso e caro na montra da loja? Será que também se roem de inveja dos vizinhos que recebem mais ao fim do mês do que eles?
Ou será que se lembram, todos os dias, que há alguém que os poderia ajudar, mas que lhe vira a cara quando passa por eles, ou quando os vêem na televisão?
E todos os dias a mesma coisa. Devo admitir que a mim, deixar-me-ia frustrado e desesperado: porque é que ninguém me ajuda? – Provavelmente pensaria algo parecido com isto.

Mas mesmo que o mundo inteiro desse dinheiro, comida, roupa e medicamentos, para levantar esta gente, quanto tempo é que iria demorar a que estes, ou outros, caíssem novamente?
Não estou a dizer que então ajudar não leva a nada; que se ajudamos um pobre, logo outro aparecia para lhe tomar o lugar, por isso…
Ajudar sempre impede que alguém fique pior do que já está, ou se possível, evitar que alguém fique mesmo mal.

Mas não é com o tirar a barriga, de alguém, de misérias que vamos lá, eu reconheço isso. Era preciso que depois disso, houvesse desejo de partilha suficiente para todos termos pelo menos o suficiente para uma vida digna.
O problema é: quantos de nós estarão dispostos a darem continuamente? É que a maior parte acha que só dando uma vez chega. “Se os homens mais ricos do mundo quisessem, pagavam a divida de não sei quantos países.” E depois?
A intenção é louvável, mas é preciso por o Homem a trabalhar para acabar com a pobreza.
Em vez de tapar um chão podre com remendos, é preferível tirar tudo e fazer um que realmente dure.

Mas como tudo, enquanto não nos toca a nós, está tudo bem. E como esses problemas só nos impressionam uns minutos…Só espero que haja uma geração, um dia, que não queira esquecer. .
Délio Melo quarta-feira, janeiro 04, 2006

1 Comments:

Sei que já escreves te este texto á algum tempo mas penso que deves continuar a concordar com ele, como eu também concordo.
A verdade é que pensamos nisso uns instantes e depois continuamos a viver a nossa vidinha, perfeita comparada com a de eles. Preferimos nem ver, nem saber, egoísmo da nossa parte... mas afinal o que é que realmente podemos fazer? E quem é que se vai dar ao trabalho?! Não somos más pessoas só que também não somos as melhores.

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