De Palavras e Sonhos

terça-feira, agosto 23, 2005

Porta Branca

Um dia acordei e à minha volta tudo estava branco. Mas ao contrário do habitual, a brancura desta vez não me magoava os olhos, parecia estar na tonalidade certa para olhar e continuar a olhar sem me cansar a vista.
De pé olhei lentamente à minha volta à procura de alguma referência para saber onde estava…mas nada.
Quando decidi andar surgiu de repente, por detrás de mim, uma pequena gargalhada. Por reflexo virei-me para trás mas não vi nada. Ainda tentei, com o olhar, procurar a origem do riso, mas em vão.
Mal parei outra gargalhada entrou-me de novo pelos ouvidos e novamente voltei-me para trás e, novamente, nada.
Foi quando me virei para a frente que dei de caras com uma criança. Não deveria estar a mais de um metro de mim.
Aquela cara não me era estranha, eu sabia que já a tinha visto algures, mas onde?
Olhava para mim. Os seus olhos brilhavam e na sua cara desenhava-se um lindo sorriso.
Correu na minha direcção e quando chegou perto de mim agarrou-me na mão e começou a puxar-me proferindo palavras que eu não entendia.
A emoção da criança era de fazer sorrir qualquer um.
Continuava a falar mas eu mal percebia o que ela dizia. Era uma língua parecida com a minha, o que ainda me fazia perceber algumas palavras, mas desconexas eram se sentido.
Quando finalmente percebeu que não o entendia, o sorriso murchou e o olhar, apontado para o chão, entristeceu. Olhou directamente para mim de uma maneira que até me fez engolir em seco.
Felizmente essa tristeza não demorou muito a esvanecer-se.
Olhando para mim com uma cara de quem se tinha lembrado de alguma coisa começou a recuar e com a mão fazia-me sinais para esperar, disse-me algo e desapareceu, mas para de novo voltar a aparecer uns metros à frente.
Eu tentei chama-lo com quaisquer palavras que me vinham à cabeça, mas era como se para ele eu não estivesse lá.
Sozinho, chorava e falava para os lados como se alguém o acompanhasse na conversa.
As cenas iam-se seguindo, o corpo do miúdo crescia e começava a perceber melhor o que ele dizia. E foi isso que me gelou: aquela cara, aquela voz e as palavras…era eu!
Mais cenas passavam e comecei a reconhecer o que me passava à frente dos olhos.
Sem dar conta o horizonte estava cheio de portas brancas e pretas e com cada cena que passava uma nova porta se abria.
Por fim as cenas chegaram ao fim, a última era do meu último dia e essa minha última imagem ganhou forma. Como o cenário, também ela era branca à excepção de umas manchas pretas que começavam no coração e dai se espalhavam à volta. Ou seria ao contrário?
Aproximou-se de mim e perguntou-me: “ainda te lembras do que sou?”. Mal acabou de dizer isto dissolveu-se no branco que nos rodeava.
O silêncio voltou, mas apenas por segundos, porque outra voz surgiu. Esta voz era diferente, dava a sensação de que surgia de cada ponto daquele sítio.
Essa voz disse-me: “Está na altura de voltares. O caminho da verdade é só um. Se o seguires ter- me – ás no fim desse caminho.
É esse o caminho que queres seguir?” Ao que respondi “sim”.
Então os meus olhos começaram a ganhar peso, cansaço e lentamente se fechavam. Não sentia cansaço, apenas paz e jurava que ouvia alguém cantar enquanto o meu corpo caía para trás com a suavidade de uma pena.
Acordei.
Délio Melo terça-feira, agosto 23, 2005

19 Comments:

TA MT FIXE DÉLIO!!!! QD T ACONTECEU ISSO??OU É SO FRUTO DA TUA IMAGINAÇAO?
É uma metáfora. N aconteceu na realidade porque ainda não me drogo, mas é uma metáfora.
SEI LA!!!! :D


ATE PODIA SER O TEU RELATO DE UM SONHO DENTRO DUM SONHO.AXO Q É NORMAL!

MAS ESSA METAFORA É RELATIVA A Q?
O que é que tu percebeste do texto?
O Q PERCEBI FOI Q TAVAS A SONHAR E N SABIAS BEM ONDE TAVAS. ATE Q VISTE O Q SUPOSTAMENTE SERIAS TU EM CRIANCA E A RAZAO(P MIM) D N PERCEBERES O Q O MIUDO DIZIA É PARTE DO TEU AMADURECIMENTO CM PESSOA.TIPO,OLHARES PO PASSADO E N COMPREENDERES PK TOMAVAS CERTAS ATITUDES E CERTAS ACCOES.AS X TB N PERCEBO PK FIZ CERTAS COISAS!

DPOIS A PARTE FINAL JA FOI MAIS CONFUSA!
Não foste só tu que acordaste… De tal forma fiquei envolvida na narração desse sonho, que acho que também eu estava já a sonhar…!
Que nunca percas dentro de ti essa criança que te mostra o caminho a trilhar… Por vezes perdemo-nos um pouco e ficamos sem saber por onde seguir. Ninguém nos pode apontar o caminho… a resposta está, sempre esteve e sempre estará, dentro de nós! E claro que é mais fácil quando conseguimos desenhar algo que não nos deixa seguir por um caminho que não o nosso, lembrando as premissas de uma escolha mais intrínseca a ti próprio do que propriamente uma escolha consciente…
Achei curioso essa descoberta, ou “redescoberta” ser feita num “palco” branco… o que me remeteu logo para a VERDADE, pureza e transparência, que fazem ver tudo demasiado claro e evidente.
Sinto, desde que cheguei de Angola, que a minha alma não veio comigo… como se ela permanecesse vagueando em espaços e contextos dos quais quero fazer a minha vida… primeiro foi difícil lidar com esta “ausência”… agora, agradeço a distância, pois consigo perfeitamente identificar onde a minha alma está, e assim nunca perderei de vista o meu caminho… pois sei que tenho que chegar até ela!

Bem, acho que estendi demasiado… :P

Impossível ficar indiferente às tuas palavras…!

Beijocas,
momi*
é mais ou menos isso.
O branco é o sinal, digamos de um estado de consciencia ou de pureza.
Isso da criança até à última imagem, é só o relembrar não só de um amadurecimento por si, mas como amostra de que perdi a inocência que tinha em miúdo - por isso não percebia direito o que eles diziam e no fim havia aquelas manchas.

A forma que me aparece é como se fosse a minha alma a perguntar se sabia o que era: "de onde vinha".
E a última voz é Deus.
Obrigado Mónica. Embora não tenha sido bem nesse sentido q escrevi tá muito perto. E a tua interpretação tá certa na mesma e bem feita também.

Obrigado! :)
texto lindíssimo que nos poderia levar à descoberta de que não morremos... só a matéria desaparece e o nosso espírito permanece vivo, com todas as lembranças passadas e presentes....
Mais uma vez....
"O outro lado da vida" de Sylvia Browne. Vale a pena tentar entender...
Fico feliz por teres gostado.

Olha, diz-me quem és. Já é a segunda vez que aqui vens e escreves e continuo sem saber quem és.
Tu gostas mesmo do livro "O outro lado da vida" não gostas? :)
Não que eu tenha problemas com isso, porque não tenho, mas gostaria de saber porque gostas tanto dele.
Para quem não busque certezas científicas, que acredite também no que não se vê, tenha fé e um espírito sonhador, aberto ao imaginário (ou não)e ao poder absoluto de DEUS... então merece o prazer de o ler.
Para mim ele veio ao encontro de desejos profundos e sonhadores de que a nossa vida aqui é uma viagem, uma aprendizagem e nunca estamos sózinhos...temos o livre arbitrio da nossa vida mas também um mapa essencial desenhado desde a nossa chegada. É mesmo como quando se viaja de férias: 1º estudamos o percurso mas não invalida de que depois na estrada não nos desviemos para visitar algo que não estava previsto.É escrito com amor e dedicação a todos nós.
EHEHEHEHEH,....TAS FEITO DELIO!!!!


É PA S MANTER ANONIMO(A).....NC T DIRA KEM É!! :D
Pois....
Ó anonymous, és o mesmo/a que escreveu ainda neste texto não és?
Yes!
És dotado de nome?
Yes.....
Se o quiseres dizer sou todo ouvidos.

Já agora, há quanto tempo andas a ver este blog?
Desde Maio.2005
Cliente há algum tempo...

tens gostado? É que só há algum tempo é que tens comentado.

Já agora, eu nunca vou saber quem és pois não? :)

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