De Palavras e Sonhos

quarta-feira, novembro 23, 2005

Na sombra do desespero

O meu nome é…mais um.
Palavras levam o vento, aquilo que a história não quer lembrar.
Longe vão os tempos de terras verdes e prósperas…nada permaneceu igual.
Espalhados neste deserto, com os pés enraizados na terra, estão todos aqueles que eu um dia conheci. Basta olhar à volta para ver a erosão a que os submeti.
Há apenas uma árvore nesta prisão.
Um dia ela foi majestosa, e o passar do vento entre as suas folhas davam-me uma imagem ternurenta. Uma das coisas que melhor me sabia era estar na sua sombra quando o calor apertava.
Mesmo quando tudo à volta começou a murchar, ela era a única que ainda me protegia…até que ela morreu também.

Já não sei como remediar as coisas, sinto que vou morrer em breve.
As memórias de sentimentos verdadeiros esvoaçam, cruzando-me muitas vezes no seu caminho, enquanto arrasto os meus pés por este chão seco, apenas para morrer mais à frente numa queda vertiginosa.
Eu tinha tudo: o amor por mim, dos meus pais e irmãos, família, amigos. Agora nem a mim me tenho.
A única coisa que agora sinto é desespero.
Não sei como tudo começou, já não me consigo lembrar. Está tudo muito nublado na minha cabeça.
Lembro-me de pensar que não tinha nada, que me faltava tudo – apesar do que tinha à minha volta. Por isso decidi deixar isso para trás e ir em busca das coisas que me preenchessem esse vazio.
Disseram que me tinha tornado egoísta e supérfluo. Mas eles não sabiam o quão era bom sentir as coisas no momento: quando queria, elas eram minhas.
Isso enchia-me, fazia-me feliz…assim achava eu.
Os anos passaram e buscava cada vez mais coisas que me dessem prazer – precisava de me sentir… seguro talvez. Mas quanto mais procurava, mais sentia o desespero a crescer, até que se tornou insustentável. Perguntava-me sobre o que é que estava a acontecer, o que é que estava a mudar. Antes não era assim. É como se tudo o que eu agarrasse se diluísse imediatamente.
Foi ai que reparei que era apenas desespero: sem forças para me agarrar a algo, sem sequer saber no que me agarrar.

Hoje…já não vejo sinais de vida à minha volta, está tudo seco e em constante decadência e degradação.
Tudo aquilo que me restava foi comido pelo tempo.
Perdi-me…
Como é que eu errei tanto?
Sinto que hoje é o meu último dia… e não sei como o impedir.
Será que o céu ainda chora por…chuva?! Aqui?!
Délio Melo quarta-feira, novembro 23, 2005

1 Comments:

Fantástico Délio!
Mesmo concordando com muito do que dizes, acho que há sempre um aluz, nós é que4 não somos capazes de a ver.
Continua!
Já pensaste em publicar?
Viciaste-me, agorta vou querer ler tudo:)
Beijinho

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