De Palavras e Sonhos

quinta-feira, junho 15, 2006

em dois

Num sítio deserto, no meio da sua história, falavam...
Tudo era branco e por cima deles brilhava o sol.

Frente a frente apenas um falava.
De sua boca vinham palvras de tristeza, mágoa, incerteza e insegurança – não ódio puro. Palavras fortes que fizeram o outro tombar para trás.
O sol acompanhava a sua queda (lenta), tocando em todo o corpo aquecendo o seu coração quebrado por uma traição.
Antes de tocar no chão, já o seu corpo tinha desaparecido totalmente na luz, deixando no ar partículas de um sorriso.

O outro que ficou virou-se de costas e à sua frente começava a crescer uma sombra, até que o mundo se dividiu em dois. Procurava encontrar na penumbra algum reconforto ou sedativo para a dor que lhe nascia no peito depois do que tinha feito e porque o seu acto repetia-se vezes sem conta na sua mente – não deixando espaço para mais nenhum pensamento que fosse.
O sol, que estava agora por detrás dele queimava-lhe as costas, as pernas e a cabeça.
Não sabia qual das dores deveria aguentar: o corpo a arder, ou a mágoa no coração.
Faltava-lhe a coragem para se voltar para trás. Tinha medo de arder de vez. Mas sabia que se desse um só passo em frente algo tão meu lhe podia acontecer.

Levantando o pé direito olhou para trás pela última vez. E ao olhar para trás viu os contornos de dois rostos: um que chorava e outro que sorria.
Decidiu... talvez por causa das lágrimas que já não conseguia guardar nos seus olhos, também sorriu.
Délio Melo quinta-feira, junho 15, 2006

0 Comments:

Add a comment