De Palavras e Sonhos

A minha vida mudou: perdi o meu filho e o meu marido. O meu filho morreu e o amor do meu marido murchou.
Como é que tudo mudou tão repentinamente? O que é que aconteceu aos risos que partilhavamos os dois? Fui eu que mudei e não me apercebi ou tu que choraste longe da minha vista?
Longe da vista não é longe do coração. Um coração a dois acaba sempre sentir o sofrimento do outro mais tarde ou mais cedo.

Quase metade da minha já foi vivida e parece que gastei quase tudo o que tinha para gastar só nestes anos.
Desde que me deixaste só me restou a minha filha.
Eu tinha amigos e ainda tenho, mas com a minha perda eu precisava de mais, por isso me sinto tão só às vezes.
Eu posso te ignorar a maior parte do tempo, mas ainda penso em ti e ainda olho para ti como antigamente, mas agora com dor de amor - aquilo que tu esqueceste.
Tu esqueceste-te mesmo de mim, de tudo o que tivemos: a nossa filha; o nosso filho?

Houve vezes em que só me apeteceu odiar-te para não ter que te amar mais, para tirar este sentimento de mim e eliminar o passado. Mas isso foi algo que nunca quis. Não porque não tivesse coragem ou por achar que não conseguiria, foi apenas porque por muito cansado que o meu coração esteja, ele ainda bate por ti...

Porque é que me ainda me ignoras? Será que tu és o único aqui que perdeu a memória ou será que olhar para mim te faz doer o coração?
Eu também sofri, e ainda sofro, mas há um tempo para tudo. Deixa-me amar-te novamente.
Eu sei que viste em mim uma pessoa que desistiu, mas era só porque pensava que o fim tinha chegado e a dor da indiferença parecia-me menor do que a dor de amar... mas há certas coisas das quais não se pode fugir.
Deixa-me entrar outra vez, por favor.