De Palavras e Sonhos

terça-feira, dezembro 18, 2007

Três céus - X

Ele:

Já era quarta-feira… a primeira semana tinha passado tão depressa e a segunda já ia a meio. Caramba…
Já só me restavam – a contar com hoje – quatro dias e meio (no Domingo já ia pela manhã). Só mais quatro dias e meio para estar com ela e depois acabava-se tudo? Como é que eu ia conseguir deixa-la para trás e voltar para casa como se nada fosse? Como? Foi a primeira vez que me deu vontade de chorar a sério (até sentia o peito a apertar). Nem com a Liliana me senti assim.

Uma certa pasmaceira e tristeza começou a crescer em mim naquela manhã e eu sabia que não me podia deixar levar por ela. Não só porque tinha ainda tempo para passar com ela, mas também porque tristezas nunca criaram nada, apenas destruíram.

Como ainda era cedo (para ela é claro), decidi surpreendê-la aparecendo em casa dela.
Quando me abriu a porta viu-se mesmo que ainda estava a dormir. Ainda esfregava os olhos para os abrir completamente.
Espreguiçou-se abrindo os braços e lá sorriu. Deu-me um beijinho e abraçou-me! “Tão cedo? Tínhamos combinado algo?” – perguntou. E continuou: “Ou isso eram apenas saudades minhas?”.
Porque é que ela falou em saudades logo naquela altura? Bastou apenas isso para me deixar outra vez tristonho.
Não lhe consegui responder. Parecia que nem sabia sequer como responder.
A única coisa que fiz foi dar-lhe a mão e levá-la para a cama. Sentei-a na cama e disse-lhe “dá-me mimos”, enquanto pousava a minha cabeça no colo dela.
“Que tens?” – perguntou-me.
Disse-lhe que não era nada, só um daqueles dias. Pensei se não lhe deveria ter dito algo, mas como ela me pôs logo melhor não quis pô-la a pensar.

Tomou banho, comeu o pequeno-almoço e depois lá fomos para a praia.
Nunca pensei que ela fosse assim tão extrovertida! Ou secalhar sempre tinha sido, mas como nos conhecíamos ainda há pouco tempo, não havia à vontade para ela me mostrar tudo. Eu só me ria com ela. Era muito tola mesmo!
E o melhor da praia com ela continuava a ser poder estar deitado ao lado depois do banho. Não sei por quê, mas ela ficava mais bonita com a pele molhada e o cabelo molhado…não sei.
Se bem que passar-lhe creme pelo corpo (ela agora deixava-me por na frente também – Woo-hoo!) começava a saber muito bem também.
Se eu pensava que ela era tola, então as amigas… nem se fala! De facto, estavam bem umas para as outras. Mas no fundo, ainda que só pensassem em diversão, eram boas raparigas e muito amigas umas das outras. Bastava ver como falavam ou olhavam umas para as outras, até.

Para variar, fomos almoçar todos juntos ao INATEL .
É estranho – ou incrível – como um almoço num dia de praia sabe diferente dos restantes dias do ano.
Por acaso não estava à espera que fosse um almoço tão sossegado – tendo em conta com quem eu ia almoçar. Mas soube bem assim. Pela primeira vez podemos todos conversar normalmente. Desde que as conheço que tenho estado mais a ouvir do que a falar.
Hoje, ao contrário, pude falar com elas mais à vontade. E isso agradou-me bastante (elas pareciam gostar mais de mim do que eu pensava).

Depois do almoço fomos os seis para o outro lado do INATEL tomar café.
Quando já estávamos a ir embora ela fez-me sinal para ir ficando para trás porque queria falar comigo.
“Hoje não vamos para a praia de tarde. Vamos ficar em minha casa.” – disse-me, de uma maneira querida.
Tenho que admitir que fiquei um bocado espantado ao início, mas depois muito contente!
“Está bem!” – respondi-lhe (como se por acaso houvesse outra resposta a dar).

Despedimo-nos sem dizer que já não iríamos de tarde, mas quando falei com ela por causa disso disse-me que assim estava mais à vontade para não lhes ter de dizer que não caso insistissem.
Para melhor aproveitar o longo caminho para casa acabei por comprar-lhe um gelado que ela gostava.
Continuamos o passeio pela beira-mar a passo lento, apenas gozando do sol e do tempo agradável que se fazia sentir.

Antes de irmos para casa dela passamos primeiro pela minha para buscarmos um CD. Já que ela nunca tinha estado lá também lhe aproveitei para mostrar a casa.
Como mandam as regras: “esta é a sala, esta é a cozinha… o meu quarto..”, enfim, o habitual.
Não sei bem porquê mas parece que ela gostou do meu quarto. Para quem queria ir para casa, de repente senta-se na cama e pergunta se podíamos ficar por lá em vez de irmos para casa dela.
Nunca tinha tido uma rapariga no meu quarto antes, pelo menos não a pedido dela (e agora nem que ela quisesse ir embora eu a deixava ir)!
Aquele pedido dela no café se fosse noutra altura até podia parecer normal, mas o olhar dela… havia ali algo. Tinha certeza!

Primeiro encostamo-nos na cama a ver televisão, mas a mão dada passou a festinhas, de festinhas a beijos e de beijos a… algo mais íntimo.
Depois de passar tanto tempo com ela debaixo da luz do sol, foi preciso uma luz mais fraca, dividida pela persiana a meia altura, que me apercebi do quão morena ela realmente tinha ficado, e de como, com os seus olhos castanho-claro, ela tinha ficado realmente bonita. O próprio cabelo dela, liso, parecia mais reluzente.
Enquanto a segurava no rosto olhava fixamente para os olhos dela, para a testa, cabelo, maçãs-do-rosto, queixo e lábios. Passei-lhe suavemente a mão pela cara e toquei-lhe naqueles lábios quentes e reconfortantes – ela era minha namorada…
Veio-me à cabeça tanta coisa para dizer, tanta coisa que sentia, que nem conseguia sequer respirar.
Como enquadrava em mim aquela beleza toda era coisa que ainda me espantava.

O calor da tarde começava a fazer-se sentir, assim como o sono.
Ela deitou a cabeça sobre o meu peito deixando cair o cabelo todo sobre mim e com o braço direito cobriu-me a barriga.
Quando deixou de falar durante uns minutos pensei que talvez já dormisse. Então chamei-a baixinho: “Joana!” Mas ela não respondeu.
Deitei a cabeça para trás e deixei-me o sono vir.
Um sentido sorriso foi a minha última barreira antes de entrar no mundo dos sonhos.

Ela:

Não estava a contar acordar tão cedo hoje, ou até ser surpreendida! Mas ainda bem que existem surpresas! Sabem sempre bem de vez em quando.

Antes de eu acordar - antes do telemóvel me acordar - tocou a campainha da porta do prédio.
Quando vi que era ele até “acordei” num instante.
Àquela hora estava toda desarranjada, mas queria lá saber. Mal abriu a porta agarrei-me logo a ele e dei-lhe um lindo e longo beijinho!
“Mas espera ai, será que combinamos algo e eu esqueci-me?” – foi logo o que me veio à cabeça.
Felizmente não, não me tinha esquecido de nada. Quer dizer, achei eu. É que ele também não me respondeu. Apenas me pegou na mão e levou-me para o meu quarto (“Acção já pela manhã? Espera, eu não estou pronta! Oh, que se lixe!” – pensei para mim).

Já na cama deitou a cabeça no meu colo e disse-me “dá-me mimos”.
Ainda lhe perguntei o que tinha, mas disse que não era nada, “…apenas um daqueles dias”.
Enquanto lhe fazia festinhas na cabeça comecei a matutar. Ele já tinha entrado com uma cara um bocado diferente (para não dizer esquisita), depois mal falou comigo, só me deu a mão e trouxe-me para aqui.
Eu queria falar com ele mas secalhar era melhor não insistir, mas fazia o quê então?
Quando fui tomar banho comecei a pensar em algo…

Enquanto tomava o pequeno-almoço notei que já estava mais animado, mas era melhor prevenir do que remediar e ao menos assim aproveitamos o pouco tempo que tínhamos, apenas a dois. Mas antes disso iria tratar dele na praia!
Lá, enchi-o de mimos, brincamos e ainda o deixei por o creme à vontade (o que uma rapariga faz pelo seu amado)!
Passado um bocado, era como se a manhã de hoje fosse igual à noite de ontem: perfeita!

As minhas amigas convidaram-nos para irem com eles ao Inatel, e como ele nunca tinha ido lá, aceitamos – se bem que isso significava ir directo para a praia a seguir ao almoço, o que estragava os meus planos. Tinha que pensar em algo!
Passei metade do almoço à procura da altura para lhe dizer isso, mas logo hoje ele tinha que falar pelos cotovelos. Desisti de lhe dizer ali, iria dizer-lhe lá fora quando estivéssemos a ir embora do INATEL.

Ao irmos embora fiz-lhe sinal para irmos ficando para trás, que queria falar com ele.
Quando estávamos cá atrás disse-lhe “Hoje não vamos para a praia de tarde com eles. Vamos ficar por minha casa.” e pisquei-lhe o olho.
Despedimo-nos a correr e fomos embora. Reparei que estranhou despedir-me assim tão de repente delas – mas teve que ser porque senão vinham os porquês e a coisa podia complicar-se. Assim, não insistiam e novos ficávamos à vontade.

Àquela hora (naquele calor) não havia muita gente pelas ruas (ou estavam pela praia ou estavam por casa para fugir ao calor). Era bom sentir, de vez em quando, aquele sentimento de paz e silêncio apesar de sabermos que havia gente por todos os lados.
A caminho de casa dele para buscar um CD, ainda ganhei um gelado – nada mau para meio dia de trabalho!

Para um T1 até era uma casa bem agradável e bonita – e até tive direito a visita guiada pela casa. O que eu mais gostei foi da vista do quarto dele. Morar no último andar, com a varanda virada para a praia dava-lhe uma vista e tanto.
“Pensando bem, podemos mesmo ficar por aqui!” – pensei.

Nunca tinha namorado num quarto de um rapaz, quanto mais um a viver sozinho. Era estranho mas criou em mim um certo sentimento de liberdade e maturidade.
Eu e o meu menino sentados numa árvore b-e-i-j-a-n-d-o… ou melhor numa cama apenas para nós os dois!
Enquanto os meus olhos procuravam um novo canto para beijar lembrei-me da primeira vez que o vi, de como me olhou, e isso deu-me ainda mais vontade de o beijar e de o amar. Não acreditava que só mais alguns dias e tinha que lhe dizer adeus. Mas calei a minha consciência com mais beijos e agarrando-o com mais força e mais perto de mim.

A dada altura, agarrou-me o queixo e olhou fixamente para mim. Naqueles segundos tive certeza que me queria dizer algo. Olhei naqueles olhos verdes e para aquela pele quase morena e senti-me de novo a apaixonar-me por ele.
Beijei-o até ficar com os lábios secos.

A meio da tarde comecei a ficar cheia de sono.
Lembro-me de deitar a cabeça sobre o peito (aquecido pelo calor) dele e fechar os olhos. O resto… foi-se. Mas o que não foi, ainda sabe bem relembrar!
Délio Melo terça-feira, dezembro 18, 2007

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