De Palavras e Sonhos

domingo, dezembro 09, 2007

Três céus - II

Ele:

Acordei cedo pela manhã já com os olhos no lugar de ontem.
Depois do pequeno-almoço pus-me a caminho e como esperava, o lugar lá estava à minha espera.
Àquela hora ainda a água do mar estava bem lá ao fundo.
Andei, andei e andei e só passado um bom bocado é que comecei a ter água pela cinta. Realmente, devia ter deixado o pequeno-almoço para quando chegasse à praia.
Foi só sol, calor e passeios pela praia naquela manhã. E quando chegou a meia hora, era tempo de me por a caminho.
Quando virei costas ao mar para começar a ir embora vi que ela estava mesmo por detrás de mim (acho que não chegava a cinco metros). Mas como é que eu não a vi antes?
Pensei se devia ficar mais um bocado… mas com as tralhas todas já na mão, ainda estar a montar tudo outra vez, das duas, uma: ou pensava que era tolinho, ou que ficava por ela.
Bem, ao menos pude vê-la outra vez. Pena não ter reparado antes, mas enfim…
Embora a sensação não fosse igual à da noite anterior, era boa na mesma. Ao olhar para ela até me fazia sentir diferente e ao mesmo tempo, uma certa familiaridade - algo que eu queria sentir outra vez.
E como olhou para mim pode ser que se tenha lembrado de mim. Também, não é que tenha passado tanto tempo assim desde ontem à noite.

Enquanto caminhava para casa pus-me a pensar: ela estava sozinha... Será que veio sozinho para a praia? Será que está cá sozinha como eu? Era bom.

À tarde fui um pouco mais cedo do que tinha planeado para ver se a via (queria eu lá saber se ficava no mesmo sítio), mas não a vi em lado nenhum. Nem quando passeava e espreitava para os lados a cheguei a ver.
Enfim, um pouco de desconsolo também nunca fez mal a ninguém.

A noite já tinha chegado e com ela o último dia de festa. E quem sabia, talvez o dia de ontem de repetisse.
Mas não parecia que isso iria acontecer, porque já começava a ficar tarde e as pessoas começavam a levar os filhos embora e ela ainda nada.
Eu não a queria ver muito, nem pouco, apenas queria vê-la… até que dobrei a última esquina a caminho de casa.
Assim do nada, quebrando um silêncio de passos, vozes e pessoas ela apareceu.
Bastou um segundo de frente a frente com ela para tudo começar.

Ela olhou para mim com aqueles olhos (absolutamente) lindos e de mim saiu um “olá”- nem pensei, saiu-me (abençoada vontade inconsciente porque foi por ela que começamos a falar).
Depois de um “olá”, veio o nome, onde morava, até vir a conversa de xaxa sobre o calor e o mar.
Nossa… que rapariga!
A maneira gentil como ela falava… podia-me ter pedido qualquer coisa que eu acho que fazia naquela altura. Ainda me consigo lembrar daquele olhar tão sentido que ela me dava.

Depois de ela se ir embora fui a sorrir o caminho todo que me faltava para casa… “espera eu não lhe perguntei se ela ia amanhã à praia!” – pensei.
Foi o meu amor-próprio que me impediu bater a mim próprio.



Ela:

Era outra manhã de sol.
O silêncio, os raios de sol no meu quarto e um sentimento de liberdade faziam-me sorrir com muita vontade… ou será que terá sido do sonho que tive? Quem sabe…hihihi
Por ter dormido um pouco mais – também quem resistia àquele ambiente perfeito? – acabei por ir para a praia um pouco mais tarde do que queria.

Acho que cheguei a meio da manhã mas mesmo assim a praia ainda estava meio vazia - ou será meia cheia?
Eu também não gosto de confusões. Prefiro mesmo um bocado de sossego de vez em quando. Então quando se pode gozar do som das ondas do mar a quebrar, do sol a reflectir na superfície do mar enquanto dás um passeio…
E foi a meio deste passeio que o vi a andar pela água.
Era tão branquinho… e fofinho? Devia ter alguma coisa de especial ao ponto de me deixar envergonhada ao ponto de hesitar em ir falar com ele!
Antes de sair da água ele olhou na minha direcção e foi ai que realmente senti algo em mim de diferente. Com o brilho todo por trás e em aquele passo lento ele mexeu comigo.
Ele acabou por seguir no passeio, não me deve sequer ter visto - caramba…

Passei a maior parte do dia a apanhar sol. O que eu não dou pelo sol a passar-me calor no corpo… ahh…
Com o ouvido encostado à areia tudo parecia mudar: os passos soavam mais pesados, até as vozes soavam um bocado diferente. Isto sempre foi para mim uma sensação de relaxamento muito boa. Por isso quando chegava a hora de ir embora ia sempre sem muita vontade.
Ao levantar-me reparei que ele estava mesmo à minha frente. Estava de cabeça na minha direcção a apanhar sol.
Enquanto arranjava as coisas para se ir embora, não deu para não ficar a vê-lo. Ao passar por mim acho que ficou admirado de me ver, pelo menos foi isso que eu vi na cara dele.
Eu também acabei por ir pouco depois. E à tarde quando pensava que iria vê-lo de novo, as minhas amigas tiveram a bela ideia de me levarem para outro sítio. E logo por causa de gajos!
De início o meu corpo estava com elas, mas a minha mente estava noutro local, à procura.
Quando isso passou acabei por me divertir com elas. Há já algum tempo que não estava com elas, e aliás, foi por elas que vim. Falamos, rimos (bem alto) e falamos mais um bocado.
Até que me soube muito bem estar de novo com elas, já tinha saudades das minhas compinchas!

Acabamos por ir todas jantar a casa da Tiaga com direito a jantar feito pela própria! Comi tanto naquela noite…mais parecia que tinha um buraco negro em vez de estômago!
E como é habitual quando raparigas se juntam, a conversa dura até às tantas e acaba mais tarde ou mais cedo por meter rapazes pelo meio – e aquele dia não tinha sido excepção!
Ainda que meio envergonhada acabei por falar num certo rapaz. Contei-lhes como o tinha conhecido/visto e que até estava um bocado interessada nele. Não foi preciso mais para que aquelas tolas, especialmente a Tiaga, começarem logo com “amor à primeira vista”! Ao menos deu para nos rirmos um bocado!

Por causa da conversa acabei por sair de lá um pouco tarde, por isso sai em passeio de corrida.
Ao dobrar a esquina ele apareceu-me mesmo à minha frente. Até senti algo a subir por mim acima. Não sei se foi do susto de ver alguém aparecer do nada ou se foi porque o tinha visto outra vez.
Ele foi o primeiro a dizer “olá”. Começamos a conversar e nem o cansaço de um dia tão animado, me fez sentir um bocadito com vontade de ir embora. Mas eu, burra, acabei por ser a primeira a despedir-me.
Um dia a minha vergonha vai-me dar chatices.

E lá fui eu, toda animada para casa.
Quando cheguei, estava tão cansada que acho que adormeci a meio caminho do salto que dei para a cama!
Délio Melo domingo, dezembro 09, 2007

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