De Palavras e Sonhos

domingo, dezembro 16, 2007

Três céus - IX - Parte 1

Ele:

Olhei para o relógio e faltavam apenas alguns minutos para a uma da manhã. Há meia hora que estava na cama e o sono continuava a não vir.
Estava tão excitado… nunca tinha feito tantos filmes na minha cabeça por causa de alguém que tinha acabado de conhecer.
O telefone tocou. Era ela.
Também não conseguia dormir. Começamos a falar até que surgiu a ideia, por entre sugestões, de eu ir lá a casa dela naquele momento.
Quando ela me convidou levantei-me e sentei-me na cama, de olhos bem abertos.

Assim que desliguei o telefone sai disparado da cama à procura de roupa, mas quanto mais depressa me queria despachar para sair, mais me atrapalhava. Pelos vistos a pressa é mesmo inimiga da perfeição.
Assim que me vesti sai a correr para ir ter com ela.
Àquela hora era mais silêncio que pessoas. Talvez estivessem ainda todos na festa lá no centro, talvez não, e estivessem já todos a dormir.
Corri por entre ruas e prédios até chegar a casa dela, deixando tudo para trás, até a Lua - eu ia assim tão depressa!
Toquei à campainha. O meu coração parecia que ia sair pelo feito fora da maneira como batia. Enquanto esperava olhei para a minha mão esquerda que tremia como tudo, e por mais que tentasse acalmar-me respirando fundo, não havia maneira de lhe dar a volta.
Não sei se ela reparou, mas é que quando inspirava profundamente, ela abriu a porta e eu bufei o ar todo na cara dela. “Isto já começa bem” – pensei.

Sorriu-me quando abriu a porta, levando o cabelo para trás da orelha com a mão esquerda. Estava novamente com aqueles calções e um pequeno top branco.
Vê-la assim…outra vez… era uma coisa que nem sei explicar direito. A única coisa que me vinha à cabeça era o quão bonita e atraente era ela.
Quando entrei ainda se fez algum silêncio – era a vergonha a bater. Ali lado a lado e nenhum dos dois parecia saber o que dizer.
“Queres ir para o meu quarto?” – perguntou.
Quase que desafinava só ao dizer “sim”.

Disse-me que se quisesse também podia deitar na cama… “desde que tires os sapatos” – brincou.
Estávamos os dois sentados na cama com as costas na parede a falar, à espera que surgisse o momento… – será que ela sentiu essa pressão?
O momento em que as amigas dela surgiram veio rapidamente à baila e apenas isso bastou para recriar o ambiente.
Dei-lhe a minha mão e sorri-lhe. Ela olhou para mim corada e sorriu-me também. Aproximei-me dela devagar, e ela de mim, e beijamo-nos.
Naquele momento perdi todo o medo, nervosismo e ansiedade e senti algo muito bom: ela. Por isso não sei dizer se o beijo durou segundos ou se durou minutos. Eu perdi-me nela e isso é tudo o que eu me lembro.

Quando afastamos os lábios um do outro só conseguíamos sorrir. O olhar que trocamos após o beijo é como se tivesse sido o primeiro olhar que alguma vez trocamos, como se houvesse um novo início. E algo em mim dizia que ambos sentíamos isso.

“Eu gosto de ti”.
“Eu também gosto de ti.”
“Queres ser minha namorada?” – perguntei-lhe, olhando-a nos olhos ansioso para que dissesse que sim.
“Quero… namorado!” – respondeu-me antes de me beijar novamente.

Estas foram as nossas primeiras palavras como namorados.
Os beijos trouxeram carícias, e a noite, uma paz banhada pela luz da lua que entrava pela janela, totalmente destapada pelo cortinado.
Ela:

Já estava ao tempo na cama e o sono não vinha. Não é que estivesse ansiosa ou coisa parecida, simplesmente não tinha sono. Só que isso fazia com que na minha mente só se passassem filmes do que podia ter acontecido se elas não tivessem aparecido. Era imagem atrás de imagem…
“E se lhe telefonasse para vir aqui agora?” – foi isto que realmente me trouxe ansiedade e me levou o sono de vez. Aquele “telefono, não telefono”, estava a dar cabo de mim.
Acabei por ganhar coragem e telefonei-lhe. Por acaso só reparei nas horas quando olhei para o despertador, enquanto esperava que ele atendesse o telefone: Já era quase uma!
Quando ele atendeu fiquei um bocado nervosa por isso não lhe consegui fazer logo a pergunta. Andei um bocadinho às voltas mas a pergunta lá acabou por sair.
Ele vinha ai!

Não sei se eram nervos ou ansiedade, mas já bufava por tudo quanto era lado.
Ele não ia demorar muito. Fui num instante refrescar-me à casa de banho e passei de pijama a calções e top – é assim mesmo!
Quando lhe abri a porta só o vi a bufar…será que tinha vindo a correr? Mas fez uma expressão tão cómica…
Depois de entrar foi um bocado difícil de falarmos – a vergonha era mais que muita, pelo menos do meu lado era.

Levei-o para o meu quarto e disse-lhe para se sentar perto de mim.
Sentados, encostamo-nos à parede e começamos a falar... até que a conversa sobre o que tinha acontecido ainda há poucas horas, finalmente veio ao de cima.
Secalhar foi isso que bastou, porque senti algo em nós a mudar e sentia cada vez mais a presença dele no quarto.
Quando me deu a mão fiquei mesmo vermelha. Arregalei os olhos, olhei para ele e sorri-lhe – mas o meu coração batia tão forte que até o ouvia.
Então, devagarinho, chegou-se a mim e beijou-me…

Foi um beijo que me soube a céu. Foi tão bom, tão perfeito…
Quando acabou tinha um sorriso na cara que ninguém me conseguiria tirar. Olhei-o nos olhos e disse-me:
“Eu gosto de ti”.
“Eu também gosto de ti.”
“Então aceitas ser minha namorada?” – perguntou-me.
O meu coração quando ouviu aquilo tornou-se grande demais para o conter.
“Quero… namorado!” – respondi-lhe, terminando com um beijo.

Depois das únicas palavras que ansiava por ouvir, depois do beijo com que sonhava acordada, à noite coube apenas mais e mais daquele sentimento que sempre procurei: amor.
Entre provas de amor, o coração começou a descansar, e quando já só restavam festinhas, encostou-se a mim, e eu a ele, e ali adormecemos.
Passou-me pela cabeça acordá-lo para ir para casa… mas foi só isso… passou!Fiquei a vê-lo ali, deitado, a dormir e a pensar para mim mesma: “Passei anos à espera disto acontecer e quando pensei ter encontrado ele tratou-me como se eu não sentisse nada por ele. Acho que nunca me viu como mais que uma amiga. Foi tão difícil às vezes dar-lhe tanto ou simplesmente querer-lhe dar tudo e mais alguma coisa e sentir que nunca iria sentir aquilo que eu queria que ele sentisse… E agora, do nada, ele aparece. Bonito, sensível…especial. Só queria que nada viesse e nos acabasse por separar. Queria…”
Délio Melo domingo, dezembro 16, 2007

0 Comments:

Add a comment