De Palavras e Sonhos

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Três céus - XI

Ele:
Sai cedo e fui para a praia... sozinho. A Sara disse-me que ia chegar mais tarde porque uma amiga dela precisava de falar com ela, mas que depois vinham juntas ter comigo.

Como seria de esperar, àquela hora ainda pouca gente tinha chegado (o costume). Ou havia gente muito dorminhoca ou eu é que me tinha levantado cedo demais
A água estava quentinha, mesmo àquela hora.
Andava quanto queria pelo mar adentro e mesmo assim a água não me passava da cinta. Isso lembrava-me sempre das vezes que fui com os meus pais para Manta Rota, também no Algarve.
Era um local pequeno, muito sossegado (ainda que cheio de turistas)... Parecia uma aldeia.

Eu nem precisei de mais nada: deixei-me cair para trás e ali fiquei a boiar naquela água quente. Com o sono ainda não totalmente afastado, aquilo estava-me mesmo a saber bem! E enquanto a Sara não chegava não ia sair dali por nada.
De repente ouvi alguém a falar comigo: “Olá!”. “É ela” – pensei eu. Abri os olhos e levantei-me imediatamente pronto para acordar os lábios, quando…
“Não é ela.” – foi a primeira coisa que me veio à cabeça.
Quem era esta rapariga?

Chamava-se Sara e tinha 19 anos.
Nunca tinha visto rapariga tão bonita! Não era daquelas que pareciam manequins, era simplesmente linda: morena, de cabelo castanho claro, ondulado a cair pelos ombros e uns lindos olhos esverdeados (a condizer com o biquíni) – e um colar muito bonito ao pescoço – e estava a sorrir para mim!
Se num momento me tirou o fôlego, noutro tanto me encheu de dúvidas.
Durante a nossa conversa acabei por saber que morava na porta ao lado da minha – caramba, que coincidência! Tinha vindo passar férias com os pais.
Já me tinha visto a sair e a entrar várias vezes e como me viu aqui sozinho veio falar comigo.

Da água fomos para a minha toalha – onde ela depois esticou a dela – e continuamos a falar.
Normalmente iam de carro para uma praia mais longe para ir ter com os tios que também lá passavam férias, mas como o pé do pai começou a doer de mais (ele tinha um problema de saúde) decidiram eles vir cá ter.
E já que eles vinham para cá, mas mais tarde, ela veio à frente para passar mais tempo na praia. – Pela maneira como falou parecia que quem lhe tirasse a praia, tirava-lhe tudo.
Quando chegou e me viu, e visto que éramos vizinhos, decidiu vir falar comigo. “Eu também não conheço aqui ninguém e não, e como também os meus tios não me deram um priminho ou dois… Não te importas pois não… de falar contigo assim do nada…” – Disse-me mostrando um olhar já meio envergonhado.
“Claro que não, estás à vontade!” – respondi-lhe. Será que deveria ter falado na Sara? Mas também, falar nela assim do nada pareceria que estaria a percebe-la mal… Fosse como fosse, ela também iria chegar em breve e aí ficavam-se a conhecer.

Apesar de, enquanto falava com a Sara, estar sempre a ver se a via chegar, acabou por me apanhar de surpresa.
Ao menos não percebeu mal as coisas. Ao chegar até estava com uma cara simpática… eu é que já não sei se ficava tão à vontade quanto ela. Não que seja ciumento ou coisa do género. Quem se calou pouco a pouco foi a Joana – terá sido vergonha?
Se foi, também não teve muito tempo para a perder. Passado um bocado os pais dela e os tios já estavam também a chegar, por isso foi ter com eles.
Mas antes de ir ainda me chamou à parte para pedir o meu número de telemóvel.
“Que é que ela queria?” – perguntou-me a Sara quando voltei para a toalha.
“Queria o meu número de telemóvel.” – Respondi-lhe.
“E deste-lho?” – Quando ela perguntou isto fiquei com a impressão de que secalhar preferia que não tivesse dado o número.
Um bocado hesitante, acabei por dizer que sim. Ela depois olhou para mim durante uns segundos e acabou por não dizer nada.
Foi aqui que pensei: “pronto, já fiz asneira!”
“Fiz mal?” – perguntei-lhe rapidamente.
“Não, não há problema…” – respondeu-me sorrindo. Mas eu senti que embora não houvesse problema, isso ainda a incomodava um bocado. E acho que tive razão, porque acabou por estar um bocadinho diferente quando soube que lhe tinha dado o número.

Depois do almoço, quando estávamos a ver televisão, perguntei-lhe outra vez se estava tudo bem.
“Ehh… não é que esteja chateada… é que não estava à espera, percebes? Ainda por cima ainda agora a conheceste, também… Mas deixa para lá, ela até parecia simpática.” – Respondeu.
“E é. E também só veio falar comigo porque não conhece cá ninguém.” – Disse-lhe.
“Foi? Isso é um bocado chato. Se quiseres, podes convida-la para vir connosco para a praia.”
Com isto percebi que ela realmente estava à vontade com a Sara. “Está bem, eu depois convido-a para vir ter connosco amanhã.”

Como (bom) costume, passamos a maior parte da tarde juntos. Só não ficamos mais porque depois fomos para a praia ter com as amigas dela.
Soube-me bem esta tarde. Pensei por momentos que a tinha magoado ou chateado, mas saber que não, foi uma óptima sensação de alívio!
Tudo o que quero é fazê-la feliz. Sei que um dia isso vai acontecer mas… quanto mais tarde melhor!

Ela:
Depois de uma tarde como a de ontem custou-me ter que ir ter com uma amiga minha logo pela manhã – quando o que queria era ir logo ter com ele…
Só que ela estava com problemas com o namorado e isso não dá para ignorar.
Ele nunca tinha deixado de querer conhecer outras pessoas mesmo estando a namorar e isso só a deixava triste. O pior foi quando ele lhe disse que já não sabia o que sentia por ela, pelos vistos estava também a gostar de uma das “novas” amigas – pelo menos foi essa a ideia com que eu fiquei.
“Se eu lhe tivesse dito que ficava magoada quando ele fazia isso…” – desabafou.
Fiquei mesmo com pena dela… mas não a podia deixar ficar a lamentar-se e a por as culpas nela própria injustamente.
Antes que a coisa ficasse pior, peguei nela e levei-a para a praia comigo. Custou a convence-la mas lá consegui.

Quando chegamos à praia foi a minha vez de ser surpreendida. Devo ter feito uma cara tão esquisita que a Patrícia (a rapariga com quem vinha), que vinha tão calada, começou logo a tentar desviar-me a atenção.
Estávamos nós a chegar à praia e ele com uma rapariga super jeitosa do lado dele, a conversarem…
Fiquei tão surpresa que até disse em voz alta, sem dar conta: “Quem é aquela rapariga?“
Secalhar é só uma amiga dele. Não te preocupes!” – respondeu a Patrícia.
“Amiga… mas ele disse-me que não conhecia aqui ninguém.” – Respondi.
Quando chegamos à beira dele sorri-lhe… também, não havia de ser nada.
Chamava-se Joana…
Não percebi bem porquê mas pouco depois de chegar ela foi-se embora. Tenho que admitir que achei àquilo um bocado estranho, especialmente quando antes de ir embora o chamou à parte para pedir o telemóvel.
Quando ele me disse que o tinha dado acabei por me sentir um pouco triste e acabei por nem lhe dizer que… pronto…

Foi a primeira vez que as coisas entre nós estiveram assim um bocado, como dizer, “menos boas”. Mas passado um bocado aquilo passou-me e acabei por esquecer.
Ele é que acabou por não esquecer!
Depois do almoço perguntou-me se tinha ficado magoada por lhe ter dado o número. Foi tão querido da parte dele! Eu não estava habituada a ser tratada tão bem.
Expliquei-lhe porque não tinha reagido da melhor maneira, é que não estava à espera daquilo, ainda por cima pede-lhe o número de telefone… isso foi tudo menos juntar o útil ao agradável.
Mas também lhe disse que se quisesse ela podia vir connosco para a praia.

O dia não começou da melhor maneira, mas ao menos acabou muito melhor! Mas isso é outra história!
Délio Melo quarta-feira, dezembro 19, 2007

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