De Palavras e Sonhos

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Três céus - XIII

Ele:

Estava a ter um sono maravilhoso e como costume acordei na melhor parte… e ela não estava na cama?
Ainda a dormir olhei para a cama novamente e para todo o lado no quarto, mas não estava lá.
“Joana!?” – chamei-a em voz alta mas não tive resposta. Secalhar estaria na casa de banho.
Levantei-me e reparei que estava um bocado de papel junto do espelho da cómoda. Quando o vi senti que alguma coisa estava mal ali. Antes de pegar no papel apercebi-me que a roupa dela também não estava no quarto.
Corri para o papel para o ler. “Desculpa… Amo-te, Joana!” – era tudo o que lá estava escrito.
Fiquei extático depois de ler aquilo. Fiquei confuso, mas ainda mais, comecei a ficar desesperado quando pensei que não a ia ver mais.

Peguei no telemóvel a correr e enquanto me vestia tentei telefonar-lhe (sei lá quantas vezes), mas o telemóvel estava sempre desligado.
“Eu não acredito nisto.” – Era a única coisa que me saía.
Assim que me vesti sai a correr para casa dela (até parecia voar). Quando lá cheguei estava mesmo alguém a sair. Segurei a porta – nem agradeci, nem nada – desatei a correr por lá acima - até engolia escadas com as passadas que dava.
À porta, toquei, toquei e voltei a tocar, mas mais uma vez ninguém me atendia. Quando desisti de bater a porta lembrei-me que a amiga dela morava mesmo por cima dela. Sai a correr outra vez.
Devo ter tocado tanto à porta de seguida que ela veio à porta quase aos berros, mas viu que era eu e calou-se com um olhar estranho. “A Joana já não está em casa pois não?” – disse-me num tom ténue.
Quando ela me perguntou aquilo daquela maneira eu vi que ela sabia de algo.
“Onde é que ela está?” – perguntei-lhe. Mas ao invés de me responder mandou-me entrar.
“A Joana disse-te que tinha estado aqui antes de ir ter contigo ontem?” – perguntou.
Por acaso não me tinha dito nada… “Não, não disse. Mas porquê?”.
“É que ela ontem veio aqui quase a chorar.”
“A chorar?! Mas porquê?” – perguntei espantado.
“Eu suponho que ela te tenha dito o quanto gostava de ti – sabe-se lá quantas vezes – mas de certeza que nunca te disse o quão, ou porquê, tu eras tão especial para ela, pois não?”
Nunca tinha pensado que haveria uma razão especial por detrás do que ela sentia, mas pelos vistos havia uma. Naquele momento senti-me mal por nunca ter notado algo de estranho ou por não ter perguntado mais sobre o passado dela. “Pensei que ela gostava de mim porque…gostava de mim.”
“E ela gostava muito de ti, mais do que imaginas. Mas esse não era o único sentimento que ela tinha dentro dela. O facto é que ela era muito insegura, principalmente no amor. Depois do que ela sofreu acho que qualquer pessoa modificava um bocado. Ela teve uma pessoa de quem gostou mesmo muito, até parecia que respirava aquele rapaz para viver – devia ter para ai uns 16 anos na altura –, só que ele não estava interessado nela. Vê-la a sofrer todos os dias por causa dele causava-nos tanta tristeza que até nos apetecia chorar às vezes. Ver aquele olhar dela tão distante… Mas o pior é que nessa mesma altura o pai dela acabou por deixar a mãe – deixou de gostar dela pelos vistos.
Imagina uma rapariga como ela a sofrer na escola e em casa com a mãe.
Eu não sei como é que ela aguentou aquilo tudo… eu não se eu aguentava, se fosse comigo.”
Ouvir aquilo tudo fez-me sentir ciúmes, tristeza… já não sabia como sentir com aquilo tudo que ela me estava a contar.
E continuou: “Tu acabaste por ser a primeira pessoa de quem ela gostou desde os 16 e já lá vão… quatro anos! Quando nós descobrimos isso – nós, as amigas – ficamos surpreendidas por vê-la a gostar de alguém novamente. E nós ficamos felizes por ela, só que… a verdade é que ficamos com receio que ela agora voltasse a sofrer novamente. Mas também não queríamos interferir. Isso só a ia fazer relembrar do passado, por isso decidimo-nos calar e deixa-la ser feliz. Ainda pensamos falar contigo para te dizermos para não a magoares, mas quando vimos o quanto tu gostavas dela, achamos que mais valia deixar correr as coisas e esperar que tudo acabasse bem…
Por isso quando ela veio aqui ontem apanhou-me de surpresa. Não estava à espera de a ver chorar. Até pensei que vocês se tinham zangado e ela tinha ficado assim... antes fosse isso!” – exclamou.
“Que é que queres dizer com isso?” – perguntei.
“Ela estava assim porque vocês se vão separar em breve e…”
“”E” o quê?” – perguntei, já levantando a voz.
Ela olhou para mim com um olhar imensamente triste e disse: “ela estava a chorar porque a mãe lhe telefonou a confirmar que sempre iam viver para fora. Por isso é que ela ficou assim. Ela estava com esperanças que a mãe não aceitasse ir por causa do trabalho mas… não houve outra solução e agora ela tem que ir.
Pela tua reacção estou a ver que ela não te disse nada para não se magoar mais a ela, nem a ti…” – e antes dela acabar a frase interrompi-a, dizendo para mim mesmo em voz alta: “Por isso é que ela chorou ontem na varanda quando lhe disse aquilo.”
Ali, percebi porque ela se tinha comovido na noite anterior e percebi porque não quis despedidas.
“Ela chorou ontem quando estava contigo?” – perguntou admirada.
“Sim. Nós estávamos na varanda e eu comecei-lhe a dizer o que sentia por ela e ela acabou por chorar ainda durante um bocado. Eu fiquei tão sem reacção na altura que apenas a abracei.”
Durante uns segundos nenhum de nós falou: eu estava demasiado pensativo para dizer fosse o que fosse, enquanto que ela parecia estar à espera que eu dissesse algo.
“Tu percebeste porque ela não se despediu, não percebeste? – perguntou.
Apenas abanei a cabeça como sinal que tinha percebido.
“Não deixando que houvesse uma despedida e não te contando que secalhar nunca mais se iam ver não lhe trouxe só tristezas, sabes. Deste modo ela pôde estar contigo na maneira mais pura que podia: feliz.”
Ela tinha razão mas…
“Se eu soubesse podia ter feito as coisas doutra maneira, podia ter tentado fazê-la ficar cá.” – disse em desabafo.
“Porque é que achas que ela veio sozinha? Ela no fundo já sabia. Por isso pediu à mãe para vir sozinha para estar o máximo de tempo connosco. Assim, caso ela fosse mesmo embora, tinha gozado ao máximo o tempo connosco.
Ela não contava era ter-se apaixonado por ti.”
Os meus olhos abriram-se em dor quando olhei para ela depois de ter dito aquilo e as lágrimas vieram-me aos olhos.
Ela tinha ido embora e não havia nada que eu pudesse fazer.
“Espera aqui um segundo” - levantou-se e foi ao quarto. Quando veio trazia uma carta na mão. “Hoje de manhã ouvi tocar à porta, mas quando fui à porta já estava isto passado pela frincha da porta. Ainda abri a porta mas… Como podes ver, com o teu nome.
Não percebi muito bem porque estava aqui uma carta dela e não ela. mas agora já percebi.”
Fiquei com a carta dela na mão um bocado mas não tive coragem de a abrir – agora era eu que tinha medo de despedidas, medo que ela se despedisse.
Sai de casa dela e fui para casa.
Durante o caminho senti-me tão estranho naquele lugar. Era um bando de gente totalmente estranha para mim; prédios, ruas e carros que já não me diziam nada e que pareciam ter perdido lugar até no meu senso comum.
Pela primeira vez na vida senti-me… só.

Quando cheguei a casa não sabia o que fazer: lia a carta e ia atrás dela ou simplesmente arrumava as coisas e ia-me embora? “O que é me vai acontecer?” – perguntava-me.
Ganhei coragem e abri a carta…

“Amo-te!” – era tudo o que estava escrito.
Nunca tive tanta vontade de chorar como naquela altura. Chorei até perder a voz e a vista, naquela manhã.

Délio Melo sexta-feira, dezembro 21, 2007

9 Comments:

A história já acabou?
Por incrível que pareça a história devia estar completa, mas por alguma razão esqueci-me de adicionar o último bocado!

Obrigado pelo aviso! Vou já por o resto!

Já agora, um feliz Natal!
Obrigado...É que a história está mesmo...sem palavras
Obrigado! :)

Agora, eu é que fiquei sem palavras! Isso soube-me a prenda de Natal.

Espero que também gostes de fim!
Não estava nada à espera deste fim...
Foi uma das melhores histórias que li.
Vão haver mais?
Fico feliz por teres gostado da história. Sinceramente não pensava que as pessoas fossem gostar muito.

Quanto a mais histórias... eu já pensei em algo, mas isso ainda vai levar um bocado a acontecer.

Já agora, como é que soubeste desta história?
Costumo procurar blogs por palavras que me venham à cabeça e um dia por acaso encontrei o teu. Comecei a ler a historia e desde então passei a vir aqui todos os dias para ler mais um capitulo.
*seu
É mesmo "teu"! :)
Eu não ligo a formalidades.

O que é que gostaste mais na história? Ou melhor, o que te fez gostar dela?

Add a comment